Dia da Consciência Negra. Belíssimo texto de Carlos Chase. Toma!
Sou absolutamente a favor do Dia da Consciência negra, e gostaria que houvesse o dia da Consciência Feminina, o dia da Consciência do Autista, o Dia da Consciência do Cadeirante, e qualquer outro dia da Consciência de Quem Sofreu em Seu Corpo e em Sua Mente os Danos Advindos do Preconceito.
Não concordo com a maneira de celebração desse dia, pois ele só tem aumentado os esteriótipos que a mídia/sociedade adora enquadrar as pessoas. Nem todo negro é do candomblé, nem todo negro sabe sambar e nem todo negro joga futebol. De qualquer forma, é importante haver um dia para lembrarmos que muitas fortunas nesse país foram construídas com o derramamento de sangue negro, que eram escravizados não por outro motivo, mas exatamente pela cor da pele.Quem entender o contrário, então me mostra aí uma foto antiga de um branco que, por ser branco,sofreu chicoteado, com mãos e pernas amarradas a um tronco.
Lembrarmos do racismo, que é uma realidade no Brasil.
É óbvio que há diferenças entre a maneira como a sociedade trata um branco e um negro.
E olha que nem sou tão negro, mas, na escola, já recebi o apelido de macaco, já fui chamado de preto safado, e já ouvi muita, mas muita "piada" racista. Já ouvi muito "tinha que ser preto", já ouvi muito "preto quando não caga na entrada, caga na saída", e que "preto é fedorento".
Na antiga igreja que frequentava, uma família tradicional disse para outra pessoa que hoje é da minha família: você vai sujar o nome da sua família ?
Essa pessoa era notadamente racista, e estava se referindo ao fato da minha esposa ser branca, e eu negro.
É tanto bombardeio, que você começa a desconfiar se de fato há algo inferior em você. É um processo de destruição da sua auto-estima, que só quem sofreu na pele sabe do que estou falando.
Aí me vem uns filhos da puta (porque só pode ser filho da puta quem pensa assim) me dizer que nesse país não existe racismo. Que, esquecendo o passado, que fazendo vista grossa para o racismo, ele irá sumir. Aí não dá.
A melhor maneira de não tratar de um problema, é camuflá-lo. E por não camuflar o racismo, é que eu admiro, por exemplo, os Estados Unidos.
Lá, quem é racista, o é.
Lá, em Convenção dos Republicanos, um grupo jogou bananas na cinegrafista negra. Eles são o que são, e isso está explícito.
E explicitar é o primeiro passo para o tratamento de qualquer mal.
Aqui no Brasil, não. Como consequencia da hipocrisia brasileira, o racismo é como um câncer sorrateiro.
Ele está lá, mas nem seu portador quer que ele surja, seja detectado. Diz "deixa como está", "não traz isso à tona", "vai ser pior".
Até que um dia algum branquinho, numa fila qualquer, num comércio qualquer, numa família qualquer, rebaixa alguém pelo fato desse alguém ter a pele escura.
Até que você procura os negros nas propagadandas das construtoras, das escolas, das margarinas, e vê que quando a mídia/propaganda quer retratar algo muito bom, retrata por meio da pele branca.
Antigamente eu não sabia me defender, mas hoje eu sei. Com palavras e fisicamente, se for necessário.
Para terminar, neguinho, tenha consciência de que você é visto e tratado de forma diferente por muita, mas muita gente de pele branca.
Branquinhos, antes de falar merda, venham cá passar um tempo numa pele escura. Falar do que você não entende, e não sente, é muito fácil.
Que um dia possamos nos entender, é a minha esperança.
Carlos Jefferson Chase.
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